A Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) prendeu, na quinta-feira (26/6), um jovem de 21 anos acusado de perseguir uma ex-professora e criar vídeos e imagens pornográficas falsificadas com o uso de inteligência artificial (IA), prática conhecida como “deepfake”. O caso ocorreu em Quixadá, no Sertão Central cearense, e tem gerado forte repercussão nas redes sociais e entre especialistas em segurança digital e violência contra a mulher.
De acordo com a Delegacia Regional de Polícia Civil de Quixadá, a vítima, que havia sido professora do suspeito, procurou as autoridades após perceber que estava sendo seguida constantemente por ele. O comportamento do jovem chamou a atenção dos moradores da cidade, já que ele circulava pelas ruas com uma jaqueta preta, calça do Exército e um objeto pontiagudo — o que intensificou o temor da mulher e da comunidade.
Além da perseguição física, o jovem produziu diversos conteúdos pornográficos falsos com o rosto da professora inserido por meio de IA. O material, que simula cenas explícitas envolvendo a vítima, foi encontrado durante a abordagem policial. O caso foi tratado com urgência, dada a gravidade da violação à privacidade e à dignidade da mulher.
Durante as investigações, a polícia descobriu ainda que o suspeito é diagnosticado com esquizofrenia e havia consumido bebida alcoólica nos dias que antecederam a perseguição. Isso, segundo os agentes, pode ter potencializado seu comportamento violento e obsessivo.
O uso de inteligência artificial para a criação de conteúdos falsificados de cunho sexual tem sido uma crescente forma de violência digital contra mulheres, e o caso de Quixadá expõe uma preocupação cada vez maior sobre a regulação dessas tecnologias e a responsabilização de seus usuários. Especialistas alertam que o acesso fácil a ferramentas de edição com IA, muitas disponíveis gratuitamente na internet, facilita a prática de crimes como difamação, assédio e abuso psicológico.
A vítima, abalada, afirmou em depoimento que nunca teve qualquer envolvimento com o suspeito além da relação acadêmica durante seu tempo como docente. Ela vinha sendo atormentada pelas ameaças veladas, constantes aparições do jovem em seu trajeto diário e, por fim, pela exposição digital com imagens falsas.
O jovem foi preso em flagrante e deve responder por crimes previstos na Lei Maria da Penha, pelo uso de meios tecnológicos para assediar e perseguir mulheres, além de responder por perseguição (stalking), injúria e difamação, todos agravados pelo uso de inteligência artificial. A polícia também avalia a possibilidade de requerer uma internação psiquiátrica, considerando o laudo de esquizofrenia.
A professora está recebendo acompanhamento psicológico e contou com apoio da Secretaria da Mulher e da Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM). Organizações civis voltadas à proteção de vítimas de crimes digitais também se mobilizaram para garantir suporte jurídico e psicológico.
O caso reforça a importância de políticas públicas voltadas à educação digital, segurança cibernética e penalização rigorosa do uso criminoso de tecnologias como a IA generativa.