A morte da cantora Preta Gil, aos 50 anos, vítima de complicações causadas por um câncer colorretal, trouxe à tona um tema que tem preocupado médicos e especialistas em todo o mundo: o avanço expressivo desse tipo de tumor entre pessoas mais jovens. Diagnosticada aos 48 anos, a artista enfrentava a doença desde janeiro de 2023. Nos últimos anos, médicos vêm observando com preocupação esse crescimento, principalmente em indivíduos com menos de 50 anos.
O câncer colorretal, que atinge o intestino grosso e o reto, é hoje o terceiro tipo mais comum no Brasil e um dos mais agressivos quando não identificado precocemente. Embora as maiores taxas de incidência continuem registradas em pessoas com idade mais avançada, dados apontam que os casos entre jovens estão aumentando em ritmo acelerado, especialmente nas últimas três décadas.
Estudos mostram que, em comparação com décadas anteriores, a incidência desse câncer em pessoas abaixo dos 50 anos cresceu cerca de 70%. Nos Estados Unidos, por exemplo, a recomendação para iniciar exames preventivos, como a colonoscopia, foi reduzida de 50 para 45 anos justamente devido ao aumento precoce dos casos. No Brasil, ainda não existe um programa oficial de rastreamento voltado à população mais jovem, mas especialistas defendem que esse debate precisa ser acelerado.
Levantamento da Sociedade Americana de Câncer mostra que, em 2019, um em cada cinco diagnósticos da doença foi registrado em pacientes com menos de 55 anos, o dobro do observado em 1995. No Brasil, dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam crescimento semelhante. Entre homens de 20 a 49 anos, os casos subiram de 5 para 6 a cada 100 mil habitantes entre os anos 2000 e 2017. Embora os números ainda não sejam alarmantes, o avanço é considerado significativo.
Entre as principais causas levantadas para explicar esse fenômeno estão as mudanças no estilo de vida nas últimas décadas. A alimentação baseada em produtos ultraprocessados, o sedentarismo, a obesidade e o uso excessivo de antibióticos são apontados como fatores de risco. O excesso de peso, por exemplo, já é conhecido por aumentar as chances de desenvolvimento desse tipo de tumor.
Médicos reforçam que essas transformações nos hábitos da sociedade moderna podem estar diretamente ligadas ao crescimento da doença. A rotina urbana, a redução do consumo de alimentos naturais e o aumento da ingestão de produtos industrializados impactam negativamente a saúde intestinal.
Outro aspecto que preocupa é o impacto desse diagnóstico na vida de pessoas mais jovens, que muitas vezes estão em fase de construção de carreira e de família. Um diagnóstico precoce pode abalar não apenas a saúde, mas também os projetos de vida dessas pessoas.
Apesar do cenário, há avanços importantes no tratamento. Quando descoberto no início, o câncer colorretal tem chances de cura superiores a 95%. As técnicas cirúrgicas evoluíram, assim como medicamentos modernos, incluindo quimioterápicos e imunoterápicos. Mesmo nos casos mais graves, com metástase, a expectativa de vida é hoje consideravelmente maior do que há 20 anos.
Especialistas reforçam que a população deve ficar atenta a sintomas como sangue nas fezes, alterações no ritmo intestinal, cólicas ou dores abdominais. Embora o Brasil ainda não conte com um programa público específico para rastrear essa doença, discussões avançam para que medidas preventivas sejam implementadas.
Atualmente, os exames mais recomendados são o de sangue oculto nas fezes, mais acessível e econômico, e a colonoscopia, considerada o padrão ouro por permitir a visualização e remoção de pólipos que podem evoluir para câncer. A recomendação é que pessoas a partir dos 45 anos façam esse rastreamento anualmente, principalmente quem tem histórico familiar da doença.
O caso de Preta Gil reforça a necessidade de atenção aos primeiros sinais. Médicos alertam que qualquer sintoma deve ser investigado, independente da idade. Diagnóstico rápido pode ser decisivo.