Uma jovem de apenas 21 anos morreu após sofrer um infarto fulminante menos de 24 horas depois de procurar atendimento médico com fortes dores no peito e dormência nas pernas. Camila Messias Moraes foi atendida no Hospital Unimed da Asa Sul, em Brasília, onde, mesmo com alterações identificadas em seu eletrocardiograma, recebeu um diagnóstico de crise de ansiedade e foi liberada para casa. No dia seguinte, ela não resistiu.
Segundo a família, o atendimento inadequado e a falta de investigação clínica aprofundada contribuíram diretamente para a morte precoce da jovem. A suspeita de negligência médica está sendo investigada.
Camila procurou o hospital no dia 25 de junho, reclamando de dores intensas no peito e nas pernas. Durante o atendimento, foi submetida a um eletrocardiograma, que apontou uma possível anomalia no átrio direito do coração. Mesmo com o resultado, a equipe médica optou por classificá-la como uma paciente de “baixo risco”, receitando analgésicos e anti-inflamatórios, incluindo dipirona, ibuprofeno e corticoides, além de simeticona — medicamento normalmente utilizado para gases.
A orientação passada à paciente foi de retornar apenas em caso de agravamento do quadro. Poucas horas depois, Camila morreu em casa, após sentir novamente fortes dores e desmaiar em seu quarto. De acordo com a família, ela havia trabalhado durante o dia normalmente, frequentado a igreja à noite e avisado à mãe que a dor havia aumentado, mas que iria tomar os remédios prescritos.
A causa da morte foi confirmada pelo Instituto de Medicina Legal (IML), que apontou um tamponamento cardíaco e a ruptura de um aneurisma da aorta como consequência de um infarto que já vinha se desenvolvendo há pelo menos três dias. Ou seja, no momento em que foi atendida no hospital, Camila já apresentava sinais clínicos de um quadro grave que foi subestimado.
A família teve acesso ao eletrocardiograma realizado no hospital e afirmou que o próprio documento já apontava alterações que deveriam ter motivado a realização de exames complementares ou, ao menos, a observação hospitalar da paciente. Entretanto, nada disso foi feito.
“Os médicos disseram para o meu primo, que é enfermeiro, que acharam que a Camila era só mais uma garota querendo atestado para não ir trabalhar. Não deram atenção nenhuma. Ela morreu porque ninguém quis investigar direito”, relatou Amanda Moraes, irmã da vítima.
Camila foi diagnosticada com estresse e ansiedade. Segundo o hospital, ela se encaixava em um perfil de "baixo risco", conforme o escore HEART, protocolo clínico utilizado por cardiologistas. A Unimed CNU, responsável pela unidade onde Camila foi atendida, afirmou em nota que a conduta médica seguiu “rigorosamente os protocolos” e que os exames realizados estavam normais.
A empresa também declarou que não havia indícios clínicos ou laboratoriais que justificassem a internação ou apontassem risco iminente. No entanto, para a família, essa avaliação foi equivocada e superficial.
“Ela vinha reclamando de dores há algum tempo, mas achávamos que era só gripe ou algo muscular. Se tivessem feito um exame mais detalhado, talvez minha irmã estivesse viva”, lamentou Amanda.
Revoltada, a família registrou um boletim de ocorrência na 15ª Delegacia de Polícia, em Ceilândia. O caso será apurado como possível negligência médica. Os parentes também já avaliam a possibilidade de entrar com ação judicial contra o hospital.
“Estamos buscando justiça. A dor não vai passar, mas pelo menos queremos evitar que outra família passe por isso”, disse Tati Moraes, prima da vítima.
Camila foi velada e sepultada no último sábado (28/6), em um clima de comoção e indignação. A jovem era descrita como tranquila, dedicada ao trabalho, à igreja e à família. Segundo os parentes, ela não fumava, não bebia e não tinha histórico de doenças cardíacas.
Em nota oficial, a Unimed CNU lamentou profundamente a morte da jovem e reforçou que a equipe seguiu todos os protocolos de atendimento recomendados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. O hospital também afirmou que disponibilizou o prontuário completo da paciente para os familiares de primeiro grau, conforme a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).
A empresa negou qualquer negligência e declarou que a classificação de baixo risco foi baseada em “avaliação criteriosa, sem sinais clínicos de gravidade no momento do atendimento”.