Uma nova vacina experimental contra o HIV foi aprovada para avançar em testes clínicos nos Estados Unidos, reacendendo a esperança global na luta contra o vírus que já causou mais de 40 milhões de mortes no mundo desde o início da epidemia nos anos 1980. A aprovação foi concedida pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora norte-americana, que autorizou o início da Fase 1 dos testes em humanos, após resultados promissores em modelos laboratoriais e animais.
A vacina, desenvolvida por cientistas do Scripps Research Institute, em parceria com a IAVI (Iniciativa Internacional para Vacina contra a AIDS) e com apoio da Fundação Bill e Melinda Gates, utiliza a tecnologia de mRNA (RNA mensageiro) — a mesma plataforma usada nas vacinas contra a COVID-19 da Pfizer e Moderna.
Essa tecnologia permite que o organismo receba uma espécie de “manual de instruções” genético para que ele mesmo produza proteínas específicas do vírus. No caso do HIV, o alvo principal são os anticorpos amplamente neutralizantes (bNAbs), que são capazes de se ligar a diversas variantes do vírus e impedir sua entrada nas células humanas.
Nos testes pré-clínicos, a vacina conseguiu induzir uma forte resposta imunológica, estimulando células B — responsáveis pela produção de anticorpos — a iniciarem o processo que leva à geração dos bNAbs. Esses anticorpos são extremamente difíceis de serem produzidos naturalmente pelo corpo, motivo pelo qual o HIV é um dos vírus mais desafiadores da medicina moderna.
Segundo os pesquisadores, a vacina conseguiu atingir um dos maiores obstáculos no desenvolvimento de imunizantes contra o HIV: a altíssima capacidade de mutação do vírus, que frequentemente escapa das defesas do sistema imunológico.
Os primeiros testes clínicos, autorizados pela FDA, envolvem cerca de 56 voluntários adultos saudáveis e sem HIV, que serão monitorados ao longo de vários meses para avaliar a segurança, possíveis efeitos colaterais e a capacidade de gerar resposta imune.
Se os resultados forem positivos, o estudo avançará para as fases 2 e 3, que envolvem um número maior de pessoas, incluindo populações mais vulneráveis e, futuramente, países fora dos Estados Unidos.
É importante destacar que, neste primeiro momento, a vacina não é uma cura para quem já tem o vírus. Seu objetivo é atuar na prevenção da infecção, bloqueando a transmissão do HIV antes que ele se estabeleça no organismo.
Caso seja comprovada sua eficácia, essa vacina poderá se tornar uma poderosa ferramenta de saúde pública, especialmente em países onde o acesso à profilaxia (PrEP) e aos tratamentos é limitado.
Para o doutor Mark Feinberg, presidente da IAVI, “esse é um marco na história da pesquisa contra o HIV. Embora ainda estejamos nos estágios iniciais, a possibilidade de uma vacina de mRNA capaz de induzir os anticorpos certos é algo que pode mudar tudo”.
Já a doutora Julie McElrath, diretora do Laboratório de Pesquisa de Vacinas contra HIV do Instituto de Pesquisa Fred Hutchinson, destacou que “essa é uma das abordagens mais promissoras dos últimos 40 anos e traz uma esperança concreta, algo que por décadas parecia impossível.”
De acordo com dados da UNAIDS, cerca de 39 milhões de pessoas vivem atualmente com o HIV no mundo, sendo que mais de 1,3 milhão são novas infecções a cada ano. Apesar dos avanços no tratamento, que permite às pessoas viverem com o vírus sem desenvolver a AIDS, uma vacina segura e eficaz é considerada essencial para encerrar a pandemia do HIV.
Os resultados dos testes da Fase 1 devem ser divulgados entre o final de 2025 e início de 2026. Caso a vacina avance nas fases seguintes, poderá estar disponível para uso em larga escala nos próximos anos, dependendo da eficácia, segurança e dos processos de aprovação regulatória em diferentes países.